sábado, 15 de julho de 2017

Trivial.

Uma das coisas que mais gosto em Ghost in the Shell é o semblante da Mjr Kusanagi. É minimalista, catatônico, cheio de dúvidas. As vezes algumas coisas que se passam na minha cabeça em relação à frivolidades da vida me acordam pro cinza que é o mundo. Nem preto,  nem branco. E pensar que existem somente algumas poucas pessoas que distoam dessa cor.

  Ok, seguinte: Você conhece a pessoa tem mais ou menos 10 anos e ela é sua melhor amiga. Não é aquele amigo de 3 anos que conviveu contigo nos momentos difíceis que foram o presente, é aquele que desde o passado tá cumprindo suas promessas pro futuro. Enfim, não que a fraterna abóboda de beligerantes amigos minha faça alguma diferença. Contar-lhe-ei o dia que me vi de frente com Ela.

  Porto Alegre - RS. Cidade dos ventos, digo eu. Fria, colorida, levemente cinza ao olho alheio, mas com seu verão sempre quente naqueles que por lá passam. O onibus atrasou uns 15 minutos. Não que eu fosse me importar com tal frivolidade, mas a urgência do desabafo postergado pela distância estava pretéria naquele momento.
  O oi fraterno, calor eterno, dizeres pretéritos e encontro emérito. Que mérito! Já haviam passado 10 anos!
- Velho! Nunca pensei que ia te ver aqui, depois de todo esse tempo! Como assim? - dizia ela.
- Pois é, uma hora a gente se acerta na vida. - disse.
- Aquele 2008 bateu na trave. Tu viajou pro Rio quando eu cheguei lá!.
- Nem lembro, tu veio em 2008? Eu tava lá em 2008!
- Mas nas férias tu viajou tia (risos).
- Óh, tu não vem com esse papo de tia não! E também nem vem dizendo que foi eu quem te ensinei! Nunca falei isso! (risos)
- Claro que não - digo - aliás, eu nem convivia contigo em 2007, e digo mais! Nunca imaginei que você tinha sotaque carioca senhorita!
- Háh me poupe - diz ela.
- Tu fica 9 anos sem me ver e ainda vem com esse papinho, não mereço isso não! Nãn!
  A conversa flui. Aliás, não sou bom em transcrevê-las. Fico me imaginando a escrever diálogos tarantinescos e um humilde trecho de 8 ou 9 falas é o máximo que minha preguiça me permite escrever sem perder o fio da inspiração. Digo, que inspiração?
- Tu vai ficar aqui até que dia? Onde cê tá ficando?
- Ou, então. Não tenho lugar pra ficar... Depois que terminei aquele trabalho lá fiquei bem sem saber pra onde ir. Na verdade ficar por aqui é uma opção...
- E seus pais? - ela pergunta
- Meus pais tão bem, pra eles não faz muita diferença. Eu trabalhando eles me ajudam com aluguel, o resto é por minha conta mesmo...
- Você é louco, cê tá querendo ficar por aqui? - Perguntou ela assustada.
- Não (risos) tô brincando! Não que isso não vá acontecer. Mas acho que a paz lá da Terra da Estrada do Sol é a mais tranquila. Tem Minas também, lá é bom de ficar também.
- Eu acho que cê num sai de Minas mais não.
- Nem eu! (risos) - respondo certeiramente.
  O cinza do crepúsculo já coloria as vistas, o amarelo dos faróis dos carros ofuscava as estrelas. Vejam, Porto Alegre é uma cidade linda! Mesmo n'um dia quente de verão a sensação dos ventos implacáveis do inverno era a ambientação de minhas memórias daquele lugar. Pra quem vinha do sol e dos ventos quentes da orla carioca aqueles clima era um castigo de Deus.
- Cara aqui é muito frio e sério, não sei o que é mais frio! O inverno aqui ou o coração dos crushs (risos).
- Poxa, vai pra Minas! Lá é um pouquinho mais quentinho! As vezes até com os crushs fica mais quentinho também!
- Aff! Tu é muito engraçadinho!
- Diz aí, o quê tu tá arrumando? - ela pergunta.
- Nada diferente do que tem sido meus últimos anos - digo.
- A minha vida tá bem monótoma nesse sentido amiga (risos) e você sabe porquê! - respondo.
- Não falo é nada - diz ela.
- Por mim tu tinha que terminar tua faculdade - ela diz.
- Mas eu estou! Aliás, vez ou outra a faculdade tenta terminar comigo! De vez em quando ela consegue! (duas vezes).
  Noite adentro. O azul escuro das ruas vira o laranja choque com um aroma defumado de bacon acompanhando fritas.
- Porra tu passou os últimos meses falando que ia me levar num Pub e quando vem aqui tenho que vir no Sidinho Lanches? Tá anotado! Nãn, mereço isso não! Você é um péssimo amigo!
- Mas eu não conheço a cidade! - digo
- Cadê os pubs? Bora em um então!
- Cê vai pagar pra mim? Porquê essas porras são caras pra caralho!
- (risos) O jeito é Sidinho Lanches então, nem pra namorada eu pago lanche! Cê tá maluca?
- Aff, como tu é pobre!
- Eu né?
  O riso bólido da trivial conversa entre amigos. O simples, o enxuto e confortável "tudo bem" questionado diariamente como uma benção de vó. Faz do peso a pena que amortece o travesseiro de nosso aventar. O soluço do desespero que vira a gargalhada acompanhada com batata frita. Perdão o trocadilho, esqueci de dizer que eu amo você!
  Ei! Tem gente que tá a 8 meses sem dizer que é meu melhor amigo, você tem feito isso nos últimos 8 anos.
  Muito obrigado, de coração.